quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Um conselho inesperado

O sol brilhava, os casais de namorados aproveitavam o belo domingo, as crianças brincavam alegres e os senhores de cabeça branca se divertiam contando estórias do passado. Havia ali, naquela praça, uma atmosfera de paz. A natureza brindava a todos com um espetáculo de cantos, danças e cores. Os pássaros expunham as mais lindas melodias, as plantas bailavam, harmoniosamente, ao sabor dos ventos, e o arco-íris se refletia nas águas cristalinas do regato.
Profundo admirador da obra inigualável e magistral, eu observa cada gesto desta Mãe Divina, que aprendemos a chamar de natureza. Muito descontraído, então, vi um homem sentar-se ao meu lado e me desejar bom-dia. Retribui a gentileza e o reconheci com algum esforço. Era João, grande companheiro dos tempos de escola. Fixei os olhos nele para ter certeza e, quando tive, expressei a feliz surpresa dando-lhe um caloroso abraço.
A primeira pergunta que me acudiu foi a de indagá-lo como andava a vida. Ele, um pouco intranqüilo, respondeu-me: – não vai nada bem. Quis saber o motivo e, como precisasse desabafar, João me contou o seu problema: – o meu pai, antes de morrer, reuniu os 4 filhos para comunicar sobre o testamento que nos deixaria. Segundo a vontade dele, os bens seriam divididos em igualdade de valor. Pediu que, jamais, brigássemos por dinheiro e, com sabedoria, fizéssemos bom uso da herança. Hoje, após 5 anos de sua partida, posso dizer que fracassei diante do pedido final. Todos os meus irmãos investiram em ótimos negócios, tornaram-se grandes empresários, donos de carros luxuosos, apartamentos, casas de praia, lanchas... Enquanto, eu fracassei literalmente. A pequena fortuna, que tive em mãos, virou pó.
Ouvindo aquela prosa em tom de melancolia, não fiz questão de entender os detalhes, compreendi que a curiosidade só aumentaria a culpa de meu amigo; então, resolvi lhe falar de uma “Grande Alma”, que deixou enormes lições para Humanidade:
– No século XX, um homem franzino e infinitamente mais pobre do que nós dois venceu o Império Britânico e libertou o seu povo de um século de dominação. Sabe quais os recursos financeiros que ele tinha?
– Quais?
– Nenhum. Ganhou a guerra sem empunhar uma única arma, cativou as pessoas com o discurso da não-violência e exortou as consciências a lutarem pela justiça, fazendo uso da paz. Quando, enfim, esse homem conseguiu a independência de seu País, um radical religioso atirou nele fatalmente.Você imagina, João, o que ele pediu antes de morrer?
– Não.
– Que perdoassem o seu algoz! Quando você me falou sobre o patrimônio dos seus irmãos, me veio esta história à cabeça, porque eu nunca quis saber os caminhos para ter carros, apartamentos e lanchas. Na verdade, eu peço a Deus para levar desta terra a compreensão mínima deste amor, que de tão maravilhoso, chega ser difícil de explicar. O que dirá de sentir...

Com os olhos marejados e a voz embargada, João gaguejou: – Qual o nome deste homem? Antes de responder, fiz um pedido: – Pacifique o seu coração. O império invasor que lhe oprime é a culpa; enquanto o auto-perdão chama-se: Gandhi; ou melhor, Mahatma Gandhi. Não se esqueça disso, jamais. Procure conhecê-lo. 

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