Sozinho, entre as paredes do lar, vejo
na atmosfera a mais profunda tranqüilidade, que um escritor poderia se servir
para criar. O ambiente, vazio de ruídos, me conduz à escrivaninha do quarto e
põe em minhas mãos papel e lápis. A ponta do grafite toca, insistentemente, à
folha, no entanto, nenhuma letra ganha feitio. O mundo externo é por um
instante belo, e eu faço força para compreendê-lo em suas sutilezas, sem o
êxito desejado. Se o clima do lado de fora é o ideal, o mesmo não posso dizer
das condições internas – imersas num agitado turbilhão. Dada a circunstância,
nada posso imaginar que valha a pena. Prudentemente, desisto; ou melhor, adio a
necessidade, cujo grito ressoa dentro de mim.
Saio de casa, entro no carro e aceito o
convite para conhecer a alegria popular nos seios da natureza. Amigos
leitores, a cachoeira que visitei estava linda na fotografia feita pelos meus olhos. Pedras
imponentes, vegetação riquíssima em volta, água fresca e muita gente. Quase não
havia espaço: que exagero de minha parte! Mas, permitam-me a empolgação. Gosto
desses lugares sadios, de paz e fulgor, onde as pessoas se encontram de graça,
dividem território pacificamente, desnudam seus corpos sem frescuras e reabilitam
corpo e alma.
Deveria eu repetir outras vezes tamanha experiência.
Não há terapia melhor. Basta tirar do coração o preconceito para assistir
espetáculos de cores, formas, dialetos e risos. Um encontro da raça,
brasileiríssima. Pessoas que fazem churrasco em tijolos, escutam música nas
alturas, dançam, contam piadas; em suma, arrumam jeito de transformar a vida
nos sábados de sol. E quem disse que é preciso muito dinheiro? Negativo, a
festa se faz para os que têm pouco. Uma diversão de pés descalços e roupas sem
grife.
As pessoas mais “seletivas”, talvez, não
gostem do clima: porque tem cheiro de povo, coisa que para os gostos
“refinados” pode parecer grotesca. E daí, pergunto eu? O que representa tal
julgamento? Nada vezes nada. Não sabem elas o que estão perdendo. A natureza é um
assombro de perfeição e apresenta a terapia especial, que jamais será
encontrada em qualquer consultório médico. Há na cachoeira uma energia
mantenedora, alegre, benfazeja... O mineral cristalino lava as impurezas das
vestes, as matas sintonizam, em tons de harmonia, a inquietação dos olhos, os
ventos passam, desanuviando a mente, e eu penso: “Meu Deus, quantos tesouros no
Teu reino”.
Chego em casa e depois de um tempo...
Eis o milagre pessoal: o papel não está mais em branco – é extraordinário o
mistério da inspiração, fonte infinita de mercês que ilumina o ser humano, modifica
o panorama dos sentimentos e nos faz mergulhar no cosmo através de um olhar
apaixonado pela vida e por Quem a criou. O poeta-escritor reviveu quando se fez
luz na sua intimidade. Obrigado, Natureza!
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