terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Em preces, reconheço...

    Poderia eu escrever-lhes sobre um tema inédito em virtude da data que se avizinha. Desde já, deixo, às claras, que não procederei assim: porque o Ilustre Nazareno já povoa os meus pensamentos e textos durante todo o ano. Confesso, é verdade, que estou muito longe de compreendê-Lo. Suas palavras tão singelas entrechocam-se com a minha tímida evolução e num exame sincero de consciência, reconheço que ainda não sou digno de me considerar um dos Seus discípulos, pois ainda não tenho em mim o amor que possibilita renunciar ao ego em prol dos irmãos de caminhada. De maneira alguma, desejo uma aparência, cujos meus atos não mereçam. Do que me adianta, chamar-Lhe pelo nome, se não cumpro, obstinadamente, a Lei da Caridade ditada no épico Sermão da Montanha? Ensina-me, Inesquecível Mestre, a ser humilde e fraterno a ponto de me calar diante da palavra ferina e de “desejar ao próximo, apenas, aquilo que desejo para mim”. 

  Enquanto, nascem essas palavras, recordo-me da compaixão que o Senhor devotou aos que tinham os dedos da sociedade apontados para si. Feliz exemplo, e, maior não poderia haver, é o de Maria de Magdala - jovem faceira, conhecida pela fama de vida fácil – que a Sua alma angelical, despida dos gozos profanos – conseguiu arrebatar para tarefa redentora. Mais tarde, essa mesma mulher, profundamente tocada pelo grau de transcendência das parábolas contadas no cenário fascinante da Galiléia, serviu-Lhe de inspiração para advertir aos 12 apóstolos quanto à necessidade premente do amor, cuja encantadora moça já vibrava no momento em que Lhe enxugou os pés. 

  E quando materializou o Seu perispírito, para dar a prova irrefutável da imortalidade da alma e da transitoriedade do corpo físico, foi a quem que o Senhor escolheu como testemunha da revelação? Sacerdotes? Fiéis religiosos? Mercadores do sagrado? Não! Optou por Maria de Magdala e utilizou-se do poderoso ectoplasma que ela emanava no ápice das suas faculdades mediúnicas. É emblemático: o primeiro coração a ser acalmado, após o calvário da cruz, foi o de uma mulher que, nos dias de hoje, também seria julgada pelo dogmatismo dos templos, ornados pelas luzes midiáticas, mas esquecidos de “dar com a mão esquerda e esconder da direita”. 

  Divino Benfeitor, peço-Lhe, nesta hora em que as ceias estão postas à mesa, que a Sua doutrina, tão esquecida na essência e dilapidada pela ambição dos “profetas” que “ajuntam tesouros na terra”, mostra-me: outras Marias, iguais àquela, para que eu possa, realmente, conhecê-Lo.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Os dramas modernos e a cura bi-milenar

    Existe um vazio existencial no imo das criaturas que a medicina dos consultórios e hospitais não consegue curar. Imersa nesse problema insondável pela ótica materialista, a sociedade observa, letárgica, as lágrimas provocadas por atitudes malsãs, e os governos, ao passo que privam a população dos seus direitos mais humanos, criam planos econômicos para dar liquidez ao mercado financeiro, mas ignoram o luto que se propaga – criando vítimas e inconsoláveis - em virtude do ódio lavrado por facções clandestinas e partidárias, hábeis em contaminar as superestruturas de poder com o bacilo da ganância. 

   Numa relação libidinosa com o dinheiro, a pedagogia familiar, por sua vez, incute no veículo emocional das crianças a prática da competição voraz, que extrapola as brincadeiras pueris e denigre a oportunidade – oferecida pela infância, de abrir os olhos da alma recém-chegada às paragens terrenas, para a necessidade urgente do amor. Desiludidos com a humanidade, da qual fazem parte, os pais aceleram o “envelhecimento” dos pequenos, encurtando-lhes a meninice, em nome de uma esperteza; comumente, egoísta, insensível, invejosa e maledicente – cópia fiel dos adultos, abitolados nas paranóias que escolheram para lhes adoecer. É triste ver os jovens afeitos às “amizades” por interesses, a exemplo dos seus instrutores domésticos, e, tão cedo, donos de índoles explosivas, inquietas, rancorosas, violentas, débeis..., sempre indiferentes a dor humana.  

  Neste dias, estive numa área paupérrima da Baixada Fluminense e pude constatar, além da subnutrição infantil, dos olhos fundos, das barrigas inchadas e das costelas à mostra, o drama da depressão roendo os nervos dos adultos. Há um número considerável de pessoas vivendo escravizadas por tranqüilizantes, sem poderem abrir mão dos comprimidos alopáticos, prescritos nas filas dos hospitais públicos. O pobre, afastado por questões financeiras dos conceituados psicanalistas, descobre-se enfermiço através de crises angustiantes, somente, amainadas por fortes sedativos, que obscurecem a mente, afetam os órgãos físicos e impregnam de miasmas o perispírito.

   Alguns se rendem, definitivamente, a tirania das tarjas pretas, outros recorrem às drogas alucinógenas e ao veneno do álcool. Por conseguinte, o corpo, já debilitado pelos bombardeios químicos do sistema nervoso, é obrigado a enfrentar em sua frágil tessitura as investidas dos inimigos externos, que se apoderam da mente combalida. Quais são as causas desse quadro clínico responsável pela maior parte das moléstias modernas?

  Reflexivo, imaginei recorrer à psicologia hodierna, contudo, imediatamente, desisti. Lembrei-me da magnífica obra do espírito Ramatís. Então, percorri as páginas do “Sublime Peregrino”, livro que retrata, com profundeza de detalhes, o reinado messiânico de Jesus na terra. Segundo o nobre instrutor astral, o Evangelho do Cristo é a fonte inesgotável de benesses, cujas almas, em provas e expiações, devem haurir forças para cumprir a tarefa redentora da experiência carnal.

   Longe da maturidade psicológica, associamos a dor ao sofrimento e, por diversas vezes, entramos no perigoso solo do desespero, impregnados de energias tóxicas que impedem o fluxo dos delicados raios de luz. Porém, não devemos esquecer, jamais, o que Jesus nos disse: “Eu venci o mundo”. Venceu porque comprimiu o Seu espírito angelical para adaptá-lo à matéria, caminhou, humildemente, entre os filhos de Deus e pôs-se a ensiná-los o código primoroso, narrado nos textos apostólicos.

   Conforme, afirma Ramatís: Jesus é um anjo que, há 2 milênios, dobrou as asas resplandecentes do seu conhecimento sideral para trazer aos homens o caminho da libertação. Os povos daquela época, anterior ao advento do Cristianismo, tinham como base moral a Lei de Talião, cuja sentença famosa diz – “olho por olho, dente por dente”. Todavia, o Doce Rabi, em seu enlevado amor, condenou o caráter justiceiro, que banha a terra com sangue, e aconselhou ao humilde Mateus: “perdoai setenta vezes sete”. Quantas desavenças funestas e perturbadoras poderiam ser extintas se o homem praticasse a misericórdia?

   A última rodada do Campeonato Brasileiro reservou ao mundo cenas da mais pura barbárie, cometida por fanáticos que desconhecem os sentimentos de temperança, brandura, mansuetude e pacifismo. Por quê? Existe uma cultura que fala, prioritariamente, ao ego e exacerba as paixões mundanas, como se a vida estivesse por um triz. Poucas pessoas observam os lírios do campo e as aves do céu. Deixam-se saturar pelos densos fluídos da cobiça e desejam influir no destino alheio, sendo que nem a si mesmo, elas conseguem dominar.

  Ramatís, ilustre filósofo de Alexandria, foi perfeito quando disse que nenhuma lei exterior modificará o homem, apenas, o esforço íntimo para se auto-transformar pode sensibilizar o indivíduo vicioso. Psicólogo Celestial, Jesus comprovou tal realidade ao nos deixar, em lindas parábolas e predigas, o Evangelho, cujas palavras batem as portas do coração, pedem passagem para entrar e derramar o lenitivo, sem-igual, capaz de vencer as mais dilacerantes depressões. Enquanto, o credo religioso insiste numa “salvação” externa, vinda dos céus, que nos exige, tão-somente, o verniz da aparência, o nosso Irmão Maior repete a lei imutável do Universo: “a cada um será dado segundo as suas obras”.

   O Evangelho é uma luz do cosmo, que se espraiou sobre a terra, e nele há incomensurável amor, pois sem amor não há harmonia e sem harmonia nem mesmo as estrelas se poriam, organizadas, na abóboda celeste. Se nós, humanos, observarmos os sinais da natureza, buscaremos o compromisso intransferível da auto-redenção.