A tradição africana dos
nagôs plantou, de forma definitiva, na alma do brasileiro o culto aos Orixás. Os
ensinamentos milenares, trazidos pelos negros, suportaram os embates ideológicos
e através da fé criaram uma força viva, cuja verdade fez o nosso povo conhecer
os arquétipos divinos, que vibram nos reinos da Natureza.
Em virtude do
excepcional sincretismo religioso no Brasil e do legado ancestral, as esferas celestiais
enviaram às paisagens tupiniquins o Caboclo das Sete Encruzilhadas para que fosse inaugurado
o movimento de Umbanda – no qual, caboclos e preto-velhos uniriam no místico
solo dos terreiros a magia afro-brasileira e o Evangelho de Jesus. Desciam,
então, nos idos do século XX, das paragens de Aruanda, trabalhadores do amplo
universo da caridade.
Exímios magos do
astral, as entidades missionárias passaram a curar os homens, utilizando-se do
magnetismo de seus pontos riscados, das mirongas, das ervas, do passe e,
principalmente, da justiça, pois tudo que extrapola a lei fere a Providência e,
assim, ocorre nas demandas espirituais praticadas através do encantamento de
elementos ritualísticos e do desejo sombrio de distorcer o merecimento e o
livre-arbítrio do irmão de caminhada.
Tais atitudes censuráveis fortalecem as personalidades do umbral e
obrigam o choque de energias para correção das mazelas que causam doenças
físicas e chagam o perispírito.
Infelizmente, os
feiticeiros se esquecem que Jesus encarnou na Terra e a verdade do Cosmo é o
triunfo do Seu Evangelho. A magia sideral, tão bem assimilada pelas falanges
dos Orixás, tem por intuito maior a cura das almas enfermas. E como bem disse o
Médium angelical: “Não pode a
árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar bons frutos”
[1].
Da mesma forma que Ele foi comparado a entidades infernais em virtude dos
feitos extraordinários que propiciava, preto-velhos, caboclos e exus, também,
sofrem discriminação pela ignorância dos sectários e pela vilania dos homens
que trajam branco, mas têm o coração contaminado pela ira.
Frente a dor humana e
aos hospícios que se transformaram certas “casas de caridade”, fico pensando em
Xangô, o Orixá que brilha logo abaixo de Oxalá na Umbanda, devido a sua
fundamental vibração de justiça, que rege a Lei do Carma. Não à toa, os
atributos de Xangô foram percebidos em São João Batista, o notável profeta, e
São Pedro. Sem dúvidas, apesar do sincretismo religioso se ater a alguns nomes,
os outros apóstolos de Jesus que permaneceram fiéis, após o martírio da cruz,
podem, igualmente, serem associados a Xangô, porque, naquele momento histórico
para a Humanidade, todos eles tiverem a sabedoria e o senso de justiça
necessários à causa magnânima.
O progresso espiritual
do médium, dentro da Umbanda, depende da internalização das qualidades de
Xangô. Ninguém, nem mesmo aqueles que o têm como chefe de cabeça, podem dizer
que carregam, verdadeiramente, Xangô em suas coroas, se agem sem misericórdia e
amor. O homem que ignora a piedade não é justo, e sim, um tirano. Igualmente,
ocorre com aquele que não cultua a compaixão. Fora do amor não pode haver
justiça, porque Deus, antes de tudo, “é luz e não há Nele treva nenhuma” [2].
No mais, eis a certeza inalterável: “toda árvore que não dá bons frutos será cortada
e lançada no fogo" [3]. Conforme se pode ver, não há como negar a ação e
o poder preciso do Machado de Xangô.
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