quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Não existe Justiça Divina sem amor e misericórdia. Kaô kabecilê!

  A tradição africana dos nagôs plantou, de forma definitiva, na alma do brasileiro o culto aos Orixás. Os ensinamentos milenares, trazidos pelos negros, suportaram os embates ideológicos e através da fé criaram uma força viva, cuja verdade fez o nosso povo conhecer os arquétipos divinos, que vibram nos reinos da Natureza. 

  Em virtude do excepcional sincretismo religioso no Brasil e do legado ancestral, as esferas celestiais enviaram às paisagens tupiniquins o Caboclo das Sete Encruzilhadas para que fosse inaugurado o movimento de Umbanda – no qual, caboclos e preto-velhos uniriam no místico solo dos terreiros a magia afro-brasileira e o Evangelho de Jesus. Desciam, então, nos idos do século XX, das paragens de Aruanda, trabalhadores do amplo universo da caridade.

   Exímios magos do astral, as entidades missionárias passaram a curar os homens, utilizando-se do magnetismo de seus pontos riscados, das mirongas, das ervas, do passe e, principalmente, da justiça, pois tudo que extrapola a lei fere a Providência e, assim, ocorre nas demandas espirituais praticadas através do encantamento de elementos ritualísticos e do desejo sombrio de distorcer o merecimento e o livre-arbítrio do irmão de caminhada.  Tais atitudes censuráveis fortalecem as personalidades do umbral e obrigam o choque de energias para correção das mazelas que causam doenças físicas e chagam o perispírito.

   Infelizmente, os feiticeiros se esquecem que Jesus encarnou na Terra e a verdade do Cosmo é o triunfo do Seu Evangelho. A magia sideral, tão bem assimilada pelas falanges dos Orixás, tem por intuito maior a cura das almas enfermas. E como bem disse o Médium angelical: “Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar bons frutos[1]. Da mesma forma que Ele foi comparado a entidades infernais em virtude dos feitos extraordinários que propiciava, preto-velhos, caboclos e exus, também, sofrem discriminação pela ignorância dos sectários e pela vilania dos homens que trajam branco, mas têm o coração contaminado pela ira.

  Frente a dor humana e aos hospícios que se transformaram certas “casas de caridade”, fico pensando em Xangô, o Orixá que brilha logo abaixo de Oxalá na Umbanda, devido a sua fundamental vibração de justiça, que rege a Lei do Carma. Não à toa, os atributos de Xangô foram percebidos em São João Batista, o notável profeta, e São Pedro. Sem dúvidas, apesar do sincretismo religioso se ater a alguns nomes, os outros apóstolos de Jesus que permaneceram fiéis, após o martírio da cruz, podem, igualmente, serem associados a Xangô, porque, naquele momento histórico para a Humanidade, todos eles tiverem a sabedoria e o senso de justiça necessários à causa magnânima.

   O progresso espiritual do médium, dentro da Umbanda, depende da internalização das qualidades de Xangô. Ninguém, nem mesmo aqueles que o têm como chefe de cabeça, podem dizer que carregam, verdadeiramente, Xangô em suas coroas, se agem sem misericórdia e amor. O homem que ignora a piedade não é justo, e sim, um tirano. Igualmente, ocorre com aquele que não cultua a compaixão. Fora do amor não pode haver justiça, porque Deus, antes de tudo, “é luz e não há Nele treva nenhuma” [2].

  No mais, eis a certeza inalterável: “toda árvore que não dá bons frutos será cortada e lançada no fogo" [3]. Conforme se pode ver, não há como negar a ação e o poder preciso do Machado de Xangô. 



[1] Mateus, VII: 15-20.
[2] Primeira Epístola de João.
[3] Mateus, VII: 15-20.

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