De tanto procurar, a
desesperada mulher já havia se decidido: “É a última vez que colocarei os meus
pés num terreiro de Umbanda. Dependendo do que eu ouvir, não voltarei mais”.
Madalena estava cansada
e doente. A melancolia lhe tomava os traços do rosto. E só mesmo o rastilho de
fé no Mestre amado ainda a impulsionava numa procura, quase às cegas, em busca
de amparo espiritual. Foram muitas as suas decepções. Madalena não desejava
empregos de mão-beijada, namoros arranjados, revides e supremacia social. A viúva,
mãe de dois filhos, que acabara de se descobrir cardiopata, queria, apenas, uma
terapia capaz de lhe auxiliar no tratamento da medicina terrena.
Infelizmente, pelo não
conhecimento das premissas que regem o fenômeno mediúnico, Madalena caiu em
verdadeiros embustes. Nos centros procurados, quiseram, primeiramente,
investigar-lhe o bolso, e não, o espírito - como fazem os prudentes médicos
homeopatas, que sabedores da Lei de Causa e Efeito, procuram no íntimo das
pessoas a razão para os desequilíbrios físicos. Gravemente afetada,
aparentando, sempre, visível cansaço, Madalena se deixou enganar pelas
facilidades dos “trabalhos feitos”, a base de sangue, sem nenhuma observância a
imutabilidade dos desígnios de Deus trazidos por Oxalá: “se vós soubésseis o que
significa - misericórdia quero, e não, holocaustos, não teríeis condenado a
inocentes”.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Hoje, conhecendo a
história de Madalena, reflito sobre os ensinamentos do espírito Ramatís. O
sangue derramado nos terreiros alimenta vampiros que modificam as suas formas
perispirituais para engabelar consulentes aflitos através de médiuns
despreparados ou decaídos. O sacrifício de irmãos menores e indefesos faz com
que as vibrações psíquicas da crosta encontrem amparo nas mentes fascistas dos
encarnados. Os medianeiros, ao passo que impregnam o seu duplo-etéreo de
fluídos perniciosos catalisadores da baixa magia, tornam suas auras um campo de
energias nauseantes para os espíritos benfeitores.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Graças a Deus, a
querida irmã, apesar dos enganos, não desistiu...
Chegando a um simples
terreiro, sentiu-se acolhida já na entrada. Por intermédio da clarividência,
Madalena, em vez do sofrimento das outras casas, viu no plano astral uma
fraternidade de espíritos que trabalhavam em salutar harmonia. Quando chegou a
sua vez de ser atendida, ela sentou-se num banquinho e olhou, com admirável
confiança, os olhos materiais trasbordantes de ternura, cujo um amável
preto-velho fazia de lamparina para cativar as almas envoltas em sombras.
- Me ajuda vovô, tenho
medo de morrer.
- Filha, a falange
médica desta casa já está tomando conta de você. Não tema!
- Vovô, eu andei muito
até chegar aqui. Gastei dinheiro, depositei esperança, fui aonde jamais pensei
que poderia ir... Mesmo assim, continuo doente.
- Agradeça, filha!
- Como assim, vovô? Eu
disse que “continuo doente”.
- Se você estivesse
curada, não se engane: seria, apenas, pelo corpo físico. E tudo que vem fácil
volta fácil. Talvez, você estivesse trocando uma doença por outra: substitui-se
o sofrimento, mas não, o carma. Cura espiritual não é coisa que se compre. Os
espíritos evangelizados, que trabalham nos caminhos do Cristo, não põem preço
naquilo que fazem. Operam em nome de Deus. Se este velho aqui lhe ajudar, será
com apoio de almas que emanam amor. Jesus disse aos seus apóstolos que se desfizessem
dos bens materiais para adquirir a “pérola” que os conduziriam ao reino dos
céus. Estando nós, espíritos, do lado de cá da vida, não podemos nos assemelhar
aos mercadores do sagrado. No fundo, já adquirimos a nosso ‘jóia’, e ela atende
pelo nome de caridade.
Madalena tomou um
pouquinho de água de coco. Respirou fundo. E se acalmou. De imediato, o velho,
percebendo a brisa fresca que acalmava as idéias da moça, após o
esclarecimento, falou: - É da sua vontade, filha, fazer uma cirurgia espiritual
em nossa casa?
- Sim, vovô.
- Então, você fará.
Nada aqui é feito contra a livre-escolha de quem quer que seja. Peço, filha,
que antes da cirurgia, você rogue a Oxalá e suplique forças para deitar na maca
de operação sem nenhuma mágoa contra qualquer irmão. Mais uma vez, lembro do
Evangelho: “se amardes, apenas, o que vos amam, que recompensa tendes?”.
Com essas palavras, o
velho desejava lhe tocar a consciência, pois sabia que ela guardava rancores
dos parentes que a haviam abandonado nos momentos de dor, em virtude da sua fé
na espiritualidade.
Madalena abraçou o vovô,
despediu-se emocionada e foi conduzida por médiuns, extremamente zelosos, que a
explicaram, com minúcias de detalhes, todos os preceitos a serem feitos para a
realização da cirurgia. Enquanto, era orientada, sentiu uma leve sonolência,
como se lhe arrefecesse o estado de vigília; e de olhos fechados presenciou
belíssima cena: por instantes, viu-se nas águas claras de um rio sendo banhada,
exatamente no coração, por Oxum. As pessoas, em volta, estranharam, mas um
médium, em particular, advertiu:
- Não a incomodem. Esse
é o início da bênção que nossa irmã veio buscar.
Nas margens do rio, Pai
Benedito – o preto-velho da consulta, dizia: - Filha, não há comparações. Eis a
diferença da alta magia para os feitiços, que, cedo ou tarde, retornam em forma
de demandas sobre a sua nascente. Os orixás são reflexos divinos do Grande Criador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário