terça-feira, 7 de janeiro de 2014

No banquinho, havia um preto-velho

    De tanto procurar, a desesperada mulher já havia se decidido: “É a última vez que colocarei os meus pés num terreiro de Umbanda. Dependendo do que eu ouvir, não voltarei mais”.

    Madalena estava cansada e doente. A melancolia lhe tomava os traços do rosto. E só mesmo o rastilho de fé no Mestre amado ainda a impulsionava numa procura, quase às cegas, em busca de amparo espiritual. Foram muitas as suas decepções. Madalena não desejava empregos de mão-beijada, namoros arranjados, revides e supremacia social. A viúva, mãe de dois filhos, que acabara de se descobrir cardiopata, queria, apenas, uma terapia capaz de lhe auxiliar no tratamento da medicina terrena.

  Infelizmente, pelo não conhecimento das premissas que regem o fenômeno mediúnico, Madalena caiu em verdadeiros embustes. Nos centros procurados, quiseram, primeiramente, investigar-lhe o bolso, e não, o espírito - como fazem os prudentes médicos homeopatas, que sabedores da Lei de Causa e Efeito, procuram no íntimo das pessoas a razão para os desequilíbrios físicos. Gravemente afetada, aparentando, sempre, visível cansaço, Madalena se deixou enganar pelas facilidades dos “trabalhos feitos”, a base de sangue, sem nenhuma observância a imutabilidade dos desígnios de Deus trazidos por Oxalá: “se vós soubésseis o que significa - misericórdia quero, e não, holocaustos, não teríeis condenado a inocentes”.
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   Hoje, conhecendo a história de Madalena, reflito sobre os ensinamentos do espírito Ramatís. O sangue derramado nos terreiros alimenta vampiros que modificam as suas formas perispirituais para engabelar consulentes aflitos através de médiuns despreparados ou decaídos. O sacrifício de irmãos menores e indefesos faz com que as vibrações psíquicas da crosta encontrem amparo nas mentes fascistas dos encarnados. Os medianeiros, ao passo que impregnam o seu duplo-etéreo de fluídos perniciosos catalisadores da baixa magia, tornam suas auras um campo de energias nauseantes para os espíritos benfeitores.
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   Graças a Deus, a querida irmã, apesar dos enganos, não desistiu...

  Chegando a um simples terreiro, sentiu-se acolhida já na entrada. Por intermédio da clarividência, Madalena, em vez do sofrimento das outras casas, viu no plano astral uma fraternidade de espíritos que trabalhavam em salutar harmonia. Quando chegou a sua vez de ser atendida, ela sentou-se num banquinho e olhou, com admirável confiança, os olhos materiais trasbordantes de ternura, cujo um amável preto-velho fazia de lamparina para cativar as almas envoltas em sombras.

   - Me ajuda vovô, tenho medo de morrer.

  - Filha, a falange médica desta casa já está tomando conta de você. Não tema!

   - Vovô, eu andei muito até chegar aqui. Gastei dinheiro, depositei esperança, fui aonde jamais pensei que poderia ir... Mesmo assim, continuo doente.

     - Agradeça, filha!
     - Como assim, vovô? Eu disse que “continuo doente”.

    - Se você estivesse curada, não se engane: seria, apenas, pelo corpo físico. E tudo que vem fácil volta fácil. Talvez, você estivesse trocando uma doença por outra: substitui-se o sofrimento, mas não, o carma. Cura espiritual não é coisa que se compre. Os espíritos evangelizados, que trabalham nos caminhos do Cristo, não põem preço naquilo que fazem. Operam em nome de Deus. Se este velho aqui lhe ajudar, será com apoio de almas que emanam amor. Jesus disse aos seus apóstolos que se desfizessem dos bens materiais para adquirir a “pérola” que os conduziriam ao reino dos céus. Estando nós, espíritos, do lado de cá da vida, não podemos nos assemelhar aos mercadores do sagrado. No fundo, já adquirimos a nosso ‘jóia’, e ela atende pelo nome de caridade.

    Madalena tomou um pouquinho de água de coco. Respirou fundo. E se acalmou. De imediato, o velho, percebendo a brisa fresca que acalmava as idéias da moça, após o esclarecimento, falou: - É da sua vontade, filha, fazer uma cirurgia espiritual em nossa casa?

     - Sim, vovô.

    - Então, você fará. Nada aqui é feito contra a livre-escolha de quem quer que seja. Peço, filha, que antes da cirurgia, você rogue a Oxalá e suplique forças para deitar na maca de operação sem nenhuma mágoa contra qualquer irmão. Mais uma vez, lembro do Evangelho: “se amardes, apenas, o que vos amam, que recompensa tendes?”.

     Com essas palavras, o velho desejava lhe tocar a consciência, pois sabia que ela guardava rancores dos parentes que a haviam abandonado nos momentos de dor, em virtude da sua fé na espiritualidade.

    Madalena abraçou o vovô, despediu-se emocionada e foi conduzida por médiuns, extremamente zelosos, que a explicaram, com minúcias de detalhes, todos os preceitos a serem feitos para a realização da cirurgia. Enquanto, era orientada, sentiu uma leve sonolência, como se lhe arrefecesse o estado de vigília; e de olhos fechados presenciou belíssima cena: por instantes, viu-se nas águas claras de um rio sendo banhada, exatamente no coração, por Oxum. As pessoas, em volta, estranharam, mas um médium, em particular, advertiu:

    - Não a incomodem. Esse é o início da bênção que nossa irmã veio buscar.


   Nas margens do rio, Pai Benedito – o preto-velho da consulta, dizia: - Filha, não há comparações. Eis a diferença da alta magia para os feitiços, que, cedo ou tarde, retornam em forma de demandas sobre a sua nascente. Os orixás são reflexos divinos do Grande Criador.

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