quinta-feira, 22 de maio de 2014

A beleza do reencontro

Em carta,  o menino agradeceu...


A distância impede que possamos nos ver com freqüência. Graças a Deus, através da Doutrina Espírita tivemos condições, nesta existência, de dedilhar a grandeza do mundo invisível. Se as barreiras materiais são obstáculos para os nossos encontros fraternos, o poder oculto das orações é capaz de nos aproximar como bons amigos. Tenho absoluta certeza que os espíritos iluminados nos ouvem atentamente. Só de imaginar que uma pessoa tão doce e gentil, como a senhora, reza por mim, já me sinto melhor. É maravilhoso saber que alguém zela pela nossa paz. Nesses instantes em que a brisa fresca traz a harmonia de suas preces, esqueço de minhas dores e recupero a mensagem, às vezes esquecida, do amor. Mesmo que quisesse, eu não seria capaz de mensurar tamanha compaixão...

 Quando nos vimos pela primeira vez, a senhora disse que tinha identificado, em mim, a figura de um neto. A frase foi tão definitiva e marcante que não pude esquecê-la. Até agora, guardo essa pérola em meu coração. Nesta vida, pelo menos, não havia antecedentes entre nós dois. Éramos desconhecidos um para outro. Felizmente, a passagem terrena, na qual estamos, não explica toda trajetória dos espíritos – que são verdadeiros andarilhos do universo. Numa época diferente, Deus nos fez amigos e, hoje, pela vontade dEle, tivemos a oportunidade de nos reencontrarmos. Quanta alegria! Em nenhuma outra pessoa, identifiquei tantos pensamentos afins com os meus. A senhora fala do Evangelho de uma maneira que me cativa. Ouvindo-a tenho Jesus comigo. Como agradecer? Impossível!

Se eu sou um neto para senhora, devo lhe dizer que a relação é perfeita: porque um neto precisa de uma avó. Através de suas palavras, recebo esperança e incentivo para crer, com fé, no futuro. É raro alguém que nos escute com atenção. Mesmo, lado a lado, muitas pessoas ouvem nossas aflições indiferentes. A senhora não. Pelo contrário, permite que eu me expresse e, quando diz algo, sempre se pronuncia carinhosamente. Atento, percebo o quão importante é a dimensão do cuidado. Tudo aquilo que cuidamos floresce um dia. E aqui está a nossa amizade bela como o botão de uma rosa. Encerro estes humildes dizeres, desejando-lhe que seja feliz. O máximo que puder.

                   Beijos

                                

domingo, 4 de maio de 2014

A resposta do caboclo

O médium, que se dedica às coisas do coração, não deixa de passar por sofrimentos angustiantes e no cume das dores, geralmente, costuma perguntar: – Por que eu, meu Pai? Quando estava no lodo da ignorância nenhum mal, aparente, acometia o meu corpo; hoje, desperto para a Tua verdade, suporto grandes aflições. Onde estão os espíritos protetores que nada fazem por mim?

– Aproxima-se, caboclo!, pediu o Preto-velho que a tudo escutava com uma tocante misericórdia.

O jovem enfermiço dobrou as pernas feito um oriental e sentado na esteira de palha, começou a meditar. Timidamente, uma missiva de paz transpôs a barreiro da desolação a ponto de serenar o seu sistema nervoso:

– Estou aqui, querido. Não esqueci a nossa irmandade e, menos ainda, o compromisso mútuo que temos. Se esta hora ainda é de dor, reflita! Na sua intimidade, verá que outrora as provações foram mais difíceis. Lute! O caráter da fé inabalável é conquistado através do esforço. Não tema a queda. Quanto mais houver dedicação para assimilar as mensagens de Jesus, maior será o descontentamento dos espíritos encarnados e desencarnados que se utilizam da baixa magia a fim de interferir no livre arbítrio dos outros. Porém, essas almas ignoram a Lei do Retorno. O machado de Xangô não perdeu a firmeza do seu corte. Creia nisto! A Justiça Divina permanece soberana, e o peso das pedras que você segura pode ser insuportável para quem desconhece o amor de Oxalá.

As palavras não se formaram na mesma rapidez que podemos lê-las. Vieram, sim, suaves como a folha que despenca da árvore e toca o chão, belas a exemplo da pena que brilha no cocar e certeira igual ao curso da flecha.