quinta-feira, 12 de março de 2015

O bispo e a Boa Nova


     Assisti, com alguma dose de preocupação, ao vídeo em que jovens da Igreja Universal do Reino de Deus apresentam-se perfilados, entoando saudações, devidamente ensaiadas, aos maldes de um quartel. Os religiosos noviços traziam consigo, para unidade da causa, o título de “Guardiões do Altar”. Devido aos comentários temorosos quanto ao possível recrudescimento do fundamentalismo teológico, a nota explicativa da organização religiosa alegou que a reunião do citado grupo tem, por objetivo, a formação de novos pastores. Muitos duvidaram.

    Faz sentido o grau de desconfiança, obviamente, sem os exageros da discriminação. Clima militar não combina com fraternidade espiritual. O roteiro do cristão é o Evangelho. Guarda-se das tormentas mundanas o mais sublime dos altares, a alma humana, com o trabalho valoroso da caridade. Não há preparação maior para enfrentar as intempéries do caminho do que o exercício da compaixão. Como bem disse o benfeitor Emmanuel: “o exercício do amor sincero jamais cansa o coração”. Se a juventude, em cena, almeja uma forma física exuberante que lhe dê fôlego para o serviço beneficente, é importante que ela não olvide a necessidade primeira de se consultar os níveis de bondade já adquirida. Porque não é pela ausência de condicionamento atlético e regimes doutrinários que os religiosos de todos os tempos têm desfalecido nas estradas apostólicas. Em verdade, caem, um a um, por não alcançarem o oxigênio divino, acessível, acima de tudo, aos espíritos amorosos.

   Inegavelmente, o bispo Edir Macedo construiu verdadeiro império com o ouro da terra. Tornou-se sacerdote das multidões. Voz respeitada pelos fiéis de sua agremiação. Criatura, às vezes, ubíqua em virtude da capacidade de espalhar o seu pensamento por diversos templos do globo. Entretanto, como todo líder popular, divide opiniões. No caso dele de maneira peculiar, pois tem a capacidade de cegar os dois lados da trincheira com o mesmo veneno: o ódio. Tanto daqueles que o defendem e o remuneram quanto dos que o execram e desejam vê-lo tombar.

   As civilizações multimilenárias trazem impressas em suas histórias a queda de fortalezas, pretensamente, inexpugnáveis. Todo tesouro reunido à custa da exploração da ignorância e do sofrimento alheio desbota pela ação magnânima do tempo. Seria maravilhoso que o referido bispo converte-se, de fato, ao Cristianismo. Inegavelmente, ele tem o mérito da oratória e um grande poder de convencimento. Não à toa, reuniu numeroso rebanho, que tem “olhos de ver” e “ouvidos de ouvir” para tudo aquilo que ele mostra ou diz. Neste século, já não há espaço para brigas entre o “o meu deus” e “o seu deus”. Os discípulos, cujo Mestre disse que seriam conhecidos por muito se amarem, deveriam observar na figura sacerdotal de Edir Macedo um potencial divulgador da Boa Nova. Homens poderosos e doutores do papel do mundo já se curvaram diante da mensagem imortal do Cristo. Por maior que seja a experiência farisaica do espírito, não se conhece, nas realidades espirituais do Cosmo, uma alma que seja intocável pelo Evangelho.

  Reúnam-se beneméritos da filosofia, prêmios Nobel, arautos da diplomacia, estadistas eméritos, e todos eles, mesmo com o cabedal que os referencia, podem menos do que um coração, verdadeiramente, evangelizado. Não tropecemos no erro de que para exaltar a Deus devemos apequenar os homens. A melhor maneira de se enaltecer a sensibilidade de um músico é o elogio a sua canção; a forma mais significativa de se reverenciar a destreza do pintor é o apreço pelas suas telas, e o ato de real valor para o poeta é o elogio à beleza de suas poesias. Vai-se à essência do artista pelas vias de sua própria arte. Somos nós, em escala infinitamente superior, a canção, a tela e a poesia de Deus. Um Excelso Criador não faz obras ruins.

  Se a igreja é do Reino de Deus, Jesus – que tão bem falou sobre a construção deste reinado – não pode ficar do lado de fora da casa, porque, no interior, os corações desconhecem que o amor resume toda Lei e os profetas.  Justamente, por esse sentimento glorioso, é que o bispo seria muito bem-vindo à causa evangélica. O exemplo dele se refletiria sobre os seus seguidores. O arrependimento impulsiona o espírito. Logo, ao observarem o Templo de Salomão, iriam se lembrar da modesta morada de Simão Pedro, que serviu às pregações do Messias; ao levantarem qualquer instrumento capaz de ferir o semelhante, ouviriam a sentença magistral proferida no Monte das Oliveiras – “embainha a tua espada” e; por fim, na perseguição e caça do direito inalienável à liberdade de crença, em nome de religiões dominantes, reviveriam o monólogo de Damasco: “Saulo, Saulo, por que tu me persegues?”.



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