Assisti, com alguma dose de preocupação,
ao vídeo em que jovens da Igreja Universal do Reino de Deus apresentam-se
perfilados, entoando saudações, devidamente ensaiadas, aos maldes de um
quartel. Os religiosos noviços traziam consigo, para unidade da causa, o título
de “Guardiões do Altar”. Devido aos comentários temorosos quanto ao possível
recrudescimento do fundamentalismo teológico, a nota explicativa da organização
religiosa alegou que a reunião do citado grupo tem, por objetivo, a formação de
novos pastores. Muitos duvidaram.
Faz sentido o grau de desconfiança,
obviamente, sem os exageros da discriminação. Clima militar não combina com
fraternidade espiritual. O roteiro do cristão é o Evangelho. Guarda-se das
tormentas mundanas o mais sublime dos altares, a alma humana, com o trabalho
valoroso da caridade. Não há preparação maior para enfrentar as intempéries do
caminho do que o exercício da compaixão. Como bem disse o benfeitor Emmanuel:
“o exercício do amor sincero jamais cansa o coração”. Se a juventude, em cena,
almeja uma forma física exuberante que lhe dê fôlego para o serviço
beneficente, é importante que ela não olvide a necessidade primeira de se
consultar os níveis de bondade já adquirida. Porque não é pela ausência de
condicionamento atlético e regimes doutrinários que os religiosos de todos os
tempos têm desfalecido nas estradas apostólicas. Em verdade, caem, um a um, por
não alcançarem o oxigênio divino, acessível, acima de tudo, aos espíritos
amorosos.
Inegavelmente, o bispo Edir Macedo construiu
verdadeiro império com o ouro da terra. Tornou-se sacerdote das multidões. Voz
respeitada pelos fiéis de sua agremiação. Criatura, às vezes, ubíqua em virtude
da capacidade de espalhar o seu pensamento por diversos templos do globo.
Entretanto, como todo líder popular, divide opiniões. No caso dele de maneira
peculiar, pois tem a capacidade de cegar os dois lados da trincheira com o
mesmo veneno: o ódio. Tanto daqueles que o defendem e o remuneram quanto dos
que o execram e desejam vê-lo tombar.
As civilizações multimilenárias trazem
impressas em suas histórias a queda de fortalezas, pretensamente,
inexpugnáveis. Todo tesouro reunido à custa da exploração da ignorância e do
sofrimento alheio desbota pela ação magnânima do tempo. Seria maravilhoso que o
referido bispo converte-se, de fato, ao Cristianismo. Inegavelmente, ele tem o
mérito da oratória e um grande poder de convencimento. Não à toa, reuniu
numeroso rebanho, que tem “olhos de ver” e “ouvidos de ouvir” para tudo aquilo
que ele mostra ou diz. Neste século, já não há espaço para brigas entre o “o
meu deus” e “o seu deus”. Os discípulos, cujo Mestre disse que seriam conhecidos por muito se amarem, deveriam
observar na figura sacerdotal de Edir Macedo um potencial divulgador da Boa Nova.
Homens poderosos e doutores do papel do mundo já se
curvaram diante da mensagem imortal do Cristo. Por maior que seja a experiência
farisaica do espírito, não se conhece, nas realidades espirituais do Cosmo, uma
alma que seja intocável pelo Evangelho.
Reúnam-se beneméritos da filosofia, prêmios
Nobel, arautos da diplomacia, estadistas eméritos, e todos eles, mesmo com o
cabedal que os referencia, podem menos do que um coração, verdadeiramente,
evangelizado. Não tropecemos no erro de que para exaltar a Deus devemos apequenar
os homens. A melhor maneira de se enaltecer a sensibilidade de um músico é o elogio
a sua canção; a forma mais significativa de se reverenciar a destreza do pintor
é o apreço pelas suas telas, e o ato de real valor para o poeta é o elogio à
beleza de suas poesias. Vai-se à essência do artista pelas vias de sua própria
arte. Somos nós, em escala infinitamente superior, a canção, a tela e a poesia
de Deus. Um Excelso Criador não faz obras ruins.
Se a igreja é do Reino de Deus, Jesus – que
tão bem falou sobre a construção deste reinado – não pode ficar do lado de fora
da casa, porque, no interior, os corações desconhecem que o amor resume toda Lei e os profetas. Justamente, por esse sentimento glorioso, é
que o bispo seria muito bem-vindo à causa evangélica. O exemplo dele se
refletiria sobre os seus seguidores. O arrependimento impulsiona o espírito.
Logo, ao observarem o Templo de Salomão, iriam se lembrar da modesta morada de
Simão Pedro, que serviu às pregações do Messias; ao levantarem qualquer
instrumento capaz de ferir o semelhante, ouviriam a sentença magistral
proferida no Monte das Oliveiras – “embainha a tua espada” e; por fim, na
perseguição e caça do direito inalienável à liberdade de crença, em nome de
religiões dominantes, reviveriam o monólogo de Damasco: “Saulo, Saulo, por que
tu me persegues?”.
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