segunda-feira, 22 de junho de 2015

O amor do amor se nutre

     Certa mulher aproximou-se de uma alma muita caridosa que doava alimentos e palavras de conforto nas periferias de Minas Gerais. Triste, com o seu casamento quase esfacelado, ela abriu a boca para revelar as angústias do coração. Em palavras desencontradas, queixou-se de tudo – do esposo, dos filhos e também da vida. Muito atento, o querido amigo tocou-lhe as mãos, com acentuado movimento de ternura, e falou mansamente:
   – Minha irmã, aprenda a nutrir-se do amor com que você ama a Deus e os seus semelhantes. É o amor que cultivamos, em nós mesmos, que nos sustenta. Através dele, dilatamos as nossas potencialidades divinas e tornamo-nos, na Terra, veículos do sentimento da Eterna Bondade. Agora, se o homem espera receber para doar, torna-se, em verdade, um pedinte espiritual e corre grandes riscos de passar sede e fome no terreno das mais puras emoções. Há alguns anos, eu, particularmente, sofria demais com a indiferença alheia e as injustiças do mundo; hoje, porém, aprendi a suportar as dores do caminho sem murmurar. Percebi que, enquanto me dirigia aos Céus com o meu quinhão de lágrimas, a espiritualidade superior, ao passo que me trazia o lenço da consolação, suplicava por mãos generosas em que pudessem depositar a confiança do trabalho na seara do bem.
O silêncio meditativo, então, como terapêutica das inteligências do invisível, permitiu que as doces arguições do simples orador penetrasse a “cripta secreta do coração” daquela mulher, antes aturdida no báratro das inquietações familiares. Percebendo a ação benfazeja do seu verbo de amor, o homem retornou ao serviço de cooperação e ouviu ressoar na acústica da alma o pedido enobrecedor: – Como faço para ajudá-lo nesta atividade de amparo ao próximo?

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