segunda-feira, 24 de agosto de 2015

ESCRAVO?

... Ao ver um grupo de jovens entregue às ruas e dominado pelo vício do crack, o pai comentou com o filho de 12 anos:

– Veja só aqueles rapazes, tornaram-se escravos das drogas...

O menosprezo materializou-se nas breves palavras, carregadas por uma artificial superioridade.

O menino, de sua baixa estatura, ergueu a cabeça para alcançar os olhos paternos e, utilizando-se de um raciocínio incomum, assim falou:

– É verdade, papai, o senhor tem razão. Mas, além desse, há outros gêneros de escravidão.
E enumerou-as: 

– Há os escravos da maledicência que não conseguem olhar a vida dos outros sem se utilizar do desdém.
– Há as personalidades enclausuradas pela violência, incapazes de dar uma resposta sem ignorância.
– Há os corações amordaçados pela mágoa, fraquejando ante o exercício do perdão.
– Há as mentalidades egoístas que desejam tudo para si e encontram-se no calabouço do ego.
– E há também os filhos do orgulho que não admitem VIDA fora de suas concepções.

O homem, altamente personalista, enxergou no filho um espelho de sua alma e nada averiguou que pudesse envaidecê-lo. Em segundos, pesou-lhe na consciência os valores ministrados na educação doméstica. Por fim, abraçou a criança, colocando-a junto ao peito como que agradecido pelo facho de luz aceso na sua consciência. Uma voz silenciosa o convidava para tarefa da reforma íntima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário